sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Vida Ribeira

Dário  Mendes


Sobrevoar o Amazonas é sem dúvida uma experiência única; enxergar as extremidades do rio vai além da imaginação. Estávamos sobre o “pulmão do mundo” e minhas palavras de euforia dirigidas ao meu amigo e companheiro de poltrona, Russo, expressavam meu deslumbre. “Cara, demais... impressionante!”. Para ele, aquilo era engraçado, pois talvez suas experiências anteriores tenham sido mais ou menos assim. Do alto de seus quase 30 anos de jornalismo e como um bom observador, Russo mantinha a discrição e deixava para mim toda a alegoria. Sim, aquele era o Russo, o “professor”. 

Eu ainda não fazia idéia do que vinha pela frente. Ao pisar em Eirunepé, cidade-destino, senti o calor do povo. As pessoas nos esperavam no pequeno aeroporto sem ao menos nos conhecer; os sorrisos eram distribuídos por crianças, adultos e velhos, como se nos desejassem boas-vindas. Um grande contraponto se revelava, pois Eirunepé é uma cidade com várias deficiências, inclusive na saúde. Exercendo a minha função, comecei a perceber, em cada disparo da máquina fotográfica, o quanto e o que poderíamos fazer por eles.

E assim se fez: a receptividade daquele povo era simplesmente admirável, não havia como não ser recíproco. Sem exceção, fomos tratados muito bem.

Ao caminhar pelas ruas dos bairros mais pobres e com a câmera em punho, registrava tudo e a todos, acompanhava o trabalho dos nossos alunos da Unicamp em conjunto com a Unioeste. Era o primeiro dia de jornada. Em cada casa visitada, pairava uma sensação de que não havíamos feito nada e de que o tempo era muito curto.

Mais do que apenas ouvi-los, o que realmente seria feito? Como, em tão poucos dias, conseguiríamos algo? Comecei a perceber aí que a realidade vivida ali doía muito, e já não cabiam preciosismos do tipo se era a Unicamp, Unioeste ou até mesmo o governo federal que estavam à frente desse projeto. Algo precisava ser feito, e logo.

Eram pessoas que vivenciavam uma realidade nua e crua. Somente estando ali para entender o que eles passavam. Mas o que nos chamava a atenção era a felicidade deles, não sei se real, mas muito visível. Após as atividades, algumas vezes, Russo e eu saímos em busca do que motivava aquela gente, e o que encontramos foi exatamente isso: a vida. Por vezes exclamávamos: "Essa é a matéria, e ou essa é a foto", pois tudo era belo e renderia belas histórias, recheadas de belas imagens. Não queríamos apenas retratar a miséria ou a falta de condições mínimas de vida - queríamos também mostrar o que há de bom e bonito em Eirunepé. E achamos.

Talvez fosse necessário ficar aqui horas relatando tudo e retratando todos. Porém, deixo minhas lembranças fortalecerem os meus princípios quanto à vida e ao ser humano. De fato, penso que tal experiência me serviu para enxergar mais além do que através da minha câmera. Passei a enxergar pessoas.

Fizemos, sei que plantamos algo, e isso renderá frutos. Cada um de nós contribuiu com o melhor, em busca da qualidade vida.

Deixo aqui meu agradecimento extensivo a todos os eirunepeenses, por terem nos recebido da forma que o fizeram. Ao meu amigo Álvaro Kassab, que compartilhou emoções em um lugar desconhecido e, ao mesmo tempo, tão nosso. Às equipes da Unicamp e da Unioeste, que fizeram um excelente trabalho, que certamente terá continuidade; o trabalho não pára, está apenas começando. À própria Unicamp, por meio da Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (Preac), com a qual pude contribuir jornalisticamente e que, com certeza, fará muito em favor não só dos cidadãos de Eirunepé, mas também de habitantes de outras localidades.

Fica o meu abraço ao povo de Eirunepé. Seus habitantes são gente como a gente. Talvez não vivam como a gente; mas, sem sombra de dúvidas, são mais gente do que muita gente!

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