Nos últimos tempos, venho percebendo a cultura em Campinas de uma maneira mais sutil e o meu desapontamento só tende a aumentar. Há seis anos trabalhando diretamente, por meio da Unicamp, na implantação de um Centro Cultural de Inclusão e Integração Social na antiga estação de trem Estação Guanabara, patrimônio tombado e de grande riqueza cultural, sinto quão ignorantes e alheios estamos à frente desse tema, Inclusão Cultural.
A dificuldade se estende por todos os lados, começando com parcerias, grupos, empresas, ong’s, poder público, que se envolvam e se comprometam em alavancar a cultura inclusiva, que no meu entendimento, se tornou ponto crucial para a cidade, até aos cidadãos invidualmente. Por um lado existem cobranças, “Campinas não oferece nada cultural”, por outro, parece não ser interessante a implantação de uma política pública cultural que desenvolva projetos e garanta progresso e acesso cultural. Não falo apenas da cultura de entretenimento, laser, mas sim de uma cultura muito mais necessária, onde dela se ramificam a educação, desenvolvimento humano e intelectual, e acima de tudo o bem estar pessoal.
Fazer a inclusão social até que não é difícil, porém a integração dos “excluídos” se torna a tarefa mais árdua, pois sem mecanismos que sustente tal inclusão muito provavelmente haverá evasão dos acolhidos, e num curto período de tempo qualquer projeto desenvolvido cairá no abandono até o seu desaparecimento. Ora, se não há um trabalho perseverante, muito menos interesse vindo principalmente dos nossos governantes, que em tese são os responsáveis, suplício e ponham suplício nisso, de uma minoria, que preocupados e desgastados acreditam em milagres. Mais uma vez, quem sai prejudicado? A População!
Se percebêssemos o quanto a Cultura, embora fragmentada em suas diversas áreas, tem sido importante para o nosso crescimento e desenvolvimento, tanto em qualidade de vida quanto em dignidade com certeza não haveria tanta displicência em torno da Cultura. É “vero” que encontramos inclusive nas redes sociais pessoas procurando fazer algo, mostrando indignações, e num esforço quase heróico levantando a bandeira da cultura em Campinas, mas já diz o ditado “uma andorinha só não faz verão”!
Cidadãos cada vez mais alienados ao entretenimento das mídias de massa, principalmente a Internet, transformando cada um em escravos virtuais, e se quer, sem o poder das escolhas, do que é ou não bom para sua vida, sem o conhecimento que o transformaria em uma pessoa bem sucedida, com mais relações humanas e com um futuro promissor.
A Cultura não tem grupos fechados ou panelas, a Cultura é de todos e pra todos, sejam jovens, velhos, adultos ou crianças, é do ser humano. Cabe ao poder público a criação e a aplicação de políticas culturais. Vemos que o planejamento dos governos locais raramente inclui uma política municipal de cultura. O setor cultural é visto como ações ou programas desarticulados (oficinas, exposições, bienais, festivais, etc.) e não é considerado constitutivo da vida das comunidades nem fundamental para o desenvolvimento social e cultural e a melhoria da qualidade de vida.
Precisamos de ação cultural, pois é apenas um primeiro passo para se chegar à Democracia Cultural, que significa possibilitar aos cidadãos participarem da vida cultural do município, apropriando-se de instrumentos e meios necessários para desenvolver suas próprias práticas culturais. Mais do que colocar eventos culturais ao alcance de todos, a prefeitura da cidade deveria agir permitindo aos cidadãos desenvolver suas próprias práticas culturais, favorecendo a melhoria da qualidade de vida e principalmente a Inclusão!!!
Talvez a estratégia para esse caso seja a promoção de atividades culturais onde o público seja participante ativo, dinamizando a cultura local a partir de suas referências, sem desconsiderar a arte chamada "erudita". O centro desta concepção é trabalhar com a cultura local, enfatizando-se a cultura por todos. O mais importante deixa de ser o acesso aos bens culturais e passa a ser a participação na criação e nos processos culturais.
Acredito que a participação dos cidadãos mais diretamente nesse processo cultural transformará, para melhor, a vida de cada pessoa, família, comunidade. Atendendo a grande demanda da população, quanto à carência cultural e ao conhecimento, inclusive para compormos governantes honestos, dignos e compromissados com a cidade de Campinas e os seus.
É nítida a carência que temos de uma cultura realmente transformadora, inclusiva e educativa, Campinas, há muito, não consegue elaborar um política cultural decente e que renda frutos futuros. Parece que progresso só ficou mesmo para as empresas e alguns políticos que se instalam por aqui e nos refrões do Hino da Cidade: Progresso! Progresso!
Dário Mendes
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